Legenda da foto: A engenheira aeroespacial colombiana Diana
Trujillo
Texto compartilhado do site do jornal EL PAÍS BRASIL, de 19
de fevereiro de 2021
Diana Trujillo, diretora de voo do ‘Perseverance’: “Algo de
vida tem que haver em Marte”
Engenheira aeroespacial colombiana, encarregada de narrar a
aterrissagem da nave da NASA, diz que o objetivo da missão é encontrar rastros
de atividade microbiana de bilhões de anos atrás
Por Juan Miguel Hernandez Bonilla
A engenheira aeroespacial colombiana Diana Trujillo narrou
nesta quinta-feira, pela primeira vez em idioma espanhol, a aterrissagem de uma
nave da NASA na superfície de Marte. Trujillo (Cali, 1981) foi a líder da
missão Curiosity, esteve a cargo da equipe de engenheiros que desenvolveu o
braço robótico do Perseverance e recentemente foi nomeada diretora de voo da
missão Mars 2020.
A jovem cientista, que chegou há duas décadas aos Estados
Unidos sem falar inglês e com 300 dólares no bolso, tornou-se agora um exemplo
e inspiração para milhares de mulheres latino-americanas que sonham com
trabalhar na NASA algum dia. Trujillo afirma que ter narrado em castelhano a
chegada do Persy a Marte pode ajudar muitas meninas e meninos da América Latina
e da Espanha a se apaixonarem pela ciência e pelo espaço.
Horas depois de encerrada a transmissão ao vivo do programa
Juntos Perseveramos, que teve mais de 1,5 milhão de visualizações, Trujillo
contou ao EL PAÍS os detalhes da bem-sucedida aterrissagem da nave e os
objetivos da missão. Segundo a pesquisadora, o jipe Perseverance tem toda a
tecnologia necessária para encontrar rastros de vida microbiana de bilhões de
anos na cratera Jezero do planeta vermelho.
Pergunta. Nesta quinta, foi a primeira vez que a NASA
transmitiu em espanhol a chegada de uma nave a outro planeta, e você foi
encarregada de narrar o processo. Como viveu essa experiência?
Resposta. Foi espetacular. Há muito tempo eu queria que a
NASA transmitisse em espanhol uma aterrissagem planetária. Passei meses
insistindo. Tudo saiu muito bem. O objetivo era que este momento histórico
chegasse não só aos cientistas e aos engenheiros que falam inglês, mas também
às avós, aos avôs, às mães, aos pais e sobretudo às meninas e meninos da
América Latina e Espanha.
P. Além de contar ao mundo hispânico os detalhes da
aterrissagem, você desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento do
Perseverance. Qual foi sua participação específica?
R. Recentemente me nomearam como uma das diretoras de voo da
Perseverance [ela sempre se refere ao robô no feminino] Antes fui encarregada
de liderar a equipe que desenhou o braço robótico da nave e de construir os
dois instrumentos que nos ajudarão a demonstrar se no passado houve vida em
Marte.
P. Como foi o processo?
P. Qual é seu balanço da aterrissagem? Como foram os detalhes
dos últimos minutos antes que o Perseverance tocasse a superfície marciana?
R. Sobrevivemos aos sete minutos do terror. Assim chamamos o
tempo que transcorre do momento em que a nave toca a atmosfera de Marte até
quando chega à superfície. Nesse intervalo a robô precisou mudar o ângulo de
rotação para ficar de frente para o chão, desacelerar através da ativação de um
paraquedas supersônico, frear com um escudo térmico, tirar fotos para comparar
o que estava vendo com a informação que tem guardada em seu cérebro. Quando
estava muito perto da superfície, ligou os foguetes para evitar se chocar com o
chão e começou a descer muito devagar, com ajuda de uma espécie de grua aérea.
P. O Perseverance aterrissou com sucesso numa cratera
chamada Jezero. Que características tem esse lugar?
R. É um lugar especial, porque tudo indica que aí
desembocava um rio. É uma cratera de aproximadamente 45 quilômetros de
diâmetro. Se a gente vê as fotos, observa como um leque, como um lugar onde a
água e os sedimentos se pulverizaram.
P. Está confirmado que houve água ali?
R. Está confirmado que houve algo que mudou a composição do
material que está ao redor. Por isso todos os cientistas concordam que esse é o
lugar onde provavelmente poderemos encontrar os rastros de vida microbiana. Se
era a foz de um rio, algo de vida tem que haver ali. Se encontrarmos isso,
também pesquisaremos para entender se a vida provavelmente começou em Marte e
na Terra ao mesmo tempo.
P. Quais as diferenças do Perseverance em relação a seu
antecessor, o Curiosity?
R. A Perseverance é a robô mais avançada da NASA. Tem 23
câmeras, dois microfones, um helicóptero chamado Ingenuity (“engenhosidade”),
um sistema de coleta de amostras muito especializado, e o primeiro instrumento
para gerar oxigênio na superfície de Marte. A Curiosity deveria responder se
havia a possibilidade de encontrar vida, a Perseverance está tratando de
responder se efetivamente houve vida no passado. Já sabemos que houve de fato a
possibilidade, agora estamos procurando essa prova que confirme.
P. O que o Perseverance vai fazer nos próximos dias?
R. A missão durará um ano de Marte, que são dois anos da
Terra. O que vamos fazer nas primeiras duas semanas são verificações para ver
que nada do robô se danificou. Eu ainda não acredito; é que entrar em Marte a
20.000 quilômetros por hora e que nada tenha se danificado é surpreendente.
Assim que verificarmos que todos os sistemas funcionam perfeitamente, vamos
começar a percorrer a cratera e coletar amostras para trazê-los para a Terra, estudá-los
e definir de uma vez por todas se havia vida em Marte.
Texto reproduzido do site: brasil.elpais.com
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