Publicado originalmente do site BBC, em 19 de abril de 2021
Ingenuity em Marte: o sucesso do 1º voo de helicóptero no
Planeta Vermelho na história
Por Jonathan Amos (Repórter de ciência da BBC)
A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, pilotou com
sucesso um pequeno helicóptero em Marte.
O drone, chamado Ingenuity, ficou no ar por menos de um
minuto, mas a Nasa celebra o que foi o primeiro voo controlado por uma aeronave
em outro planeta. A confirmação veio por meio de um satélite em Marte, que
transmitiu os dados do helicóptero para a Terra.
O helicóptero foi levado a Marte acoplado ao robô
Perseverance da Nasa, que pousou na cratera de Jezero no Planeta Vermelho em
fevereiro.
A agência espacial está prometendo voos mais aventureiros
nos próximos dias. O Ingenuity será comandado para voar mais alto e mais longe,
enquanto os engenheiros procuram testar os limites da tecnologia.
"Agora podemos dizer que os seres humanos fizeram voar
um helicóptero em outro planeta", disse MiMi Aung, a gerente de projeto do
Ingenuity no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês)
em Pasadena, Califórnia.
Esta é uma referência a Wilbur e Orville Wright, que
conduziram o primeiro voo de aeronave controlada e motorizada na Terra, em
1903. (O voo de 260 metros ocorreu três anos antes de Santos Dumont voar 60
metros com o 14-Bis, em Paris, em 1906, diante de uma multidão. Até hoje, não
há uma versão definitiva, e reconhecida internacionalmente, para a paternidade
da aviação.)
O Ingenuity carrega até uma pequena amostra de tecido de uma
das asas do Flyer 1, a aeronave que fez o voo histórico em Kitty Hawk, Carolina
do Norte, há mais de 117 anos.
Houve aplausos no centro de controle quando as primeiras
fotos do voo chegaram à Terra. Ao fundo, a voz da engenheira MiMi Aung era
ouvida: "É real!"
Com aplausos de seus colegas, ela rasgou o discurso de
contingência (aquele que teria sido usado se a tentativa não tivesse dado
certo).
A operação viu o pequeno helicóptero subir cerca de 3m,
pairar, girar e pousar. Ao todo, conseguiu quase 40 segundos de voo, da
decolagem até o pouso.
Voar no Planeta Vermelho não é fácil. A atmosfera é muito
fina, com o equivalente a apenas 1% da densidade aqui na Terra. Isso torna
desafiador para as pás de um helicóptero conseguirem ganhar sustentação.
Há ajuda da gravidade mais baixa em Marte, mas ainda assim é
muito trabalhoso sair do chão.
Por isso, o Ingenuity foi feito extremamente leve e recebeu
o poder de girar as pás extremamente rápido (a mais de 2.500 rotações por
minuto para este voo em particular).
O controle era autônomo. A distância até Marte (atualmente
pouco menos de 300 milhões de km) significa que os sinais de rádio levam
minutos para atravessar o espaço intermediário. Voar por joystick (controle
remoto) estava simplesmente fora de questão.
O Ingenuity possui duas câmeras a bordo. Uma câmera em preto e branco que aponta para o solo, usada para navegação, e uma câmera colorida de alta resolução que olha para o horizonte.
Uma amostra de imagem de navegação enviada à Terra mostrou a
sombra do helicóptero quando ele voltava para o solo. Os satélites enviarão
mais fotos no dia seguinte. Havia apenas largura de banda suficiente no
primeiro sobrevoo para enviar um pequeno trecho de vídeo do Perseverance, que
estava assistindo e fotografando a uma distância de 65m. Sequências mais longas
do vídeo devem estar disponíveis daqui algum tempo.
A Nasa anunciou que a "pista de pouso" em Jezero,
onde o Perseverance deixou o Ingenuity para sua demonstração, será conhecido de
agora em diante como "Campo dos Irmãos Wright".
Um voo inaugural bem-sucedido significa que mais quatro
tentativas de voo serão feitas nos próximos dias, cada uma buscando levar o
helicóptero para mais longe.
A esperança é que esta demonstração inicial possa
eventualmente transformar a forma como exploramos alguns planetas distantes.
Drones podem ser usados para patrulhar robôs futuros e até
mesmo astronautas quando eles chegarem a Marte.
"Trata-se realmente de ter uma ferramenta que não
pudemos usar antes e colocá-la na caixa de ferramentas que está disponível para
nossas missões futuras em Marte. Então, para mim, é muito emocionante
pessoalmente e, para a comunidade em geral, isso abre novas portas", disse
Thomas Zurbuchen, chefe de ciência da Nasa.
"Seremos capazes de explorar áreas em que não podemos
usar um robô. Algumas das paredes da cratera, por exemplo, são tão empolgantes;
os cientistas têm escrito artigos sobre elas."
A Nasa já aprovou uma missão de helicóptero a Titã, a grande
lua de Saturno. A Dragonfly, como a missão é conhecida, deve chegar lá em
meados da década de 2030.
Texto e imagens reproduzidos do site: bbc.com
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