Um meteorito encontrado na Antártida,
em uma imagem de arquivo.
Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 14/01/2020
Achado dentro de um meteorito um material mais antigo que a
Terra
Uma equipe de cientistas analisa o composto mais velho
detectado até hoje. Tem cerca de 7 bilhões de anos e se formou antes da
existência do Sol e dos planetas do sistema solar
Por Nuño Domínguez
Em 28 de setembro de 1969 pôde ser vista no céu de Victoria,
sudeste da Austrália, uma grande bola de fogo que se dividiu em três fragmentos
e desapareceu. Logo depois se sentiu um impacto. Era o meteorito de Murchison,
do qual foram recuperados até 100 quilos de material. Depois disso foram
achados nessas rochas compostos orgânicos e açúcares que reafirmaram a teoria
de que os compostos essenciais para a vida na Terra vieram do espaço a bordo de
meteoritos. Agora, um novo estudo revela que essas rochas contêm coisas ainda
mais surpreendentes.
O maior fragmento do meteorito Murchison está no Field
Museum, de Chicago. Lá, a equipe de Philipp Heck analisou uma parte do
meteorito, concentrando-se em 40 grãos de carboneto de silício, um material com
dureza semelhante à do diamante. Cada pedaço mede apenas alguns mícrons, ou
seja, é umas mil vezes menor que um milímetro, mas contém informações que datam
de antes da existência da Terra, do Sol e o resto do sistema solar.
Pesquisadores analisaram as mudanças no carboneto de silício
produzidas pelo impacto de raios cósmicos cujas partículas são capazes de
alterar a composição atômica do material original e que, por sua frequência,
podem ser usadas como um relógio que estima a idade da amostra.
Os resultados mostram que a maioria dos grãos analisados é
300 milhões de anos mais antiga que o sistema solar, formado cerca de 4,6
bilhões de anos atrás, e que alguns deles são 1 bilhão de anos mais antigos,
destacam os autores do artigo, publicado nesta terça-feira na revista
Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
"Este é o material mais antigo já encontrado",
explica Heck em um comunicado à imprensa. O especialista define a matéria
analisada como "autêntica poeira estelar" e ressalta que sua análise
permite esclarecer como se formaram as estrelas em nossa galáxia, a Via Láctea.
Segundo sua equipe, os minúsculos “fragmentos de estrela”
analisados provêm de um astro que nasceu cerca de 7 bilhões de anos atrás,
durante um período de intensa formação de estrelas. Esse material foi expelido
por sua estrela. Primeiro, vagou sozinho pelo espaço interestelar e depois
ficou sepultado dentro de um corpo de rocha, onde permaneceu preservado intacto
por bilhões de anos. Essa rocha ou parte dela foi atraída pela força da
gravidade da Terra, penetrou na atmosfera e se decompôs em todos os fragmentos
do meteorito de Murchison que caiu na Austrália em 1969. Achar esses compostos
foi um marco, já que a maior parte da poeira estelar depositada em meteoritos é
destroçada pela pressão. Apenas cerca de 5% dos meteoritos conhecidos contêm
material desse tipo, e sua abundância geralmente não excede algumas partes por
milhão.
Esse material aponta para a origem do sistema solar antes
mesmo de ele existir. “Os grãos de carboneto de silício estão entre os
materiais mais refratários e resistentes que formam os meteoritos chamados
condritos carbonáceos, como o de Murchison”, explica Josep M. Trigo,
especialista em meteoritos no Instituto de Ciências do Espaços (IEEE-CSIC), em
Barcelona. “O interesse deste trabalho é que os autores demonstram que a
maioria desse tipo de grão pré-solar se formou em um tipo de estrela conhecida
como ramo assintótico das gigantes. Isso reafirma um estudo anterior do nosso
grupo que sugere que nosso Sol poderia ter se formado nas proximidades de
estrelas desse tipo”, observa.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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