Imagem mostra a representação artística da sonda
Mars Express sobre o hemisfério sul de Marte. No canto superior
direito está a cobertura de gelo no planeta. No canto inferior,
a representação das leituras de radar. Em azul,
pontos interpretados como preserça de um reservatório.
Foto: Davide Coero Borga/INAF/ESA via AP
Evidências da presença de água líquida em Marte são
descobertas por pesquisadores com uso de radar
Estudo publicado na revista 'Science' aponta reservatório
oculto sob a superfície da região polar sul do 'Planeta Vermelho'. Descoberta
foi realizada por pesquisadores italianos.
Por Carolina Dantas, G1
Pesquisadores italianos anunciaram nesta quarta-feira (25)
que há indícios de presença de água líquida em Marte. Segundo dados coletados
por um radar da Agência Especial Europeia (ESA), há um "reservatório"
de água líquida repousando abaixo de camadas de gelo e poeira na região polar
sul do planeta vermelho.
A descoberta levanta a possibilidade de que se encontre vida
no planeta, já que a água é essencial para a existência de organismos vivos. Os
cientistas tentam há muito tempo provar a existência de água líquida em Marte.
O estudo de pesquisadores, a maioria ligada ao Instituto Nacional de
Astrofísica da Itália, foi publicado nesta quarta na revista
"Science".
A confirmação científica sobre como deve ser esse líquido –
doce ou salgado – deverá demorar, de acordo com o doutor em astronomia pela
USP, Douglas Galante. Ele diz que para conseguir isso, precisamos perfurar o
solo do planeta em uma profundidade que ainda não estamos preparados.
"A certeza vai existir só quando formos lá em Marte com
uma sonda perfurar e medir", disse Galante. O trabalho foi feito com a
ajuda do radar da sonda Mars Express, lançada em 2003, que mediu a quantidade
de água na geleira. Os dados foram coletados entre maio de 2012 e dezembro de
2015.
As próximas missões até o planeta vermelho, como a Mars
2020, deverão fazer perfurações, mas não conseguirão chegar a esse novo
reservatório descoberto – os instrumentos conseguem se aprofundar apenas alguns
metros, e seria necessário chegar mais fundo.
Profundidade incerta
Outra questão é que o estudo não determina a profundidade
exata do reservatório. Isso significa que os cientistas não puderam especificar
se é uma piscina subterrânea, algo parecido com um aquífero ou apenas uma
camada de lodo.
"Em comparação com os lagos terrestres, é um lago
pequeno com seus 20 quilômetros de diâmetro. Mas não conseguimos saber a
profundidade porque a água atenua o sinal do radar", disse o astrônomo
autor do estudo, Roberto Orosei, em entrevista para a BBC.
Água em salmoura
Antes dos pesquisadores italianos, a Nasa já tinha apontado
outras evidências de água líquida em Marte. Em 2015, a agência anunciou que o
robô Curiosity descobriu sinais da existência de 'salmouras' na superfície do
planeta, formadas quando os sais no solo, chamados de percloratos, absorvem
vapor de água da atmosfera.
"O que a gente descobriu primeiro é que existia água
congelada em solo marciano. Depois, foram encontradas evidências de água
escorrendo pela superfície de Marte, mas ela aparecia esporadicamente, só no
verão, e era salobra. E o que esse novo trabalho mostrou? É a primeira vez que
foi encontrada uma grande quantidade de água na superfície marciana em estado
líquido", explicou Galante.
Esse lago, ou reservatório, é muito parecido com um outro
encontrado na Antártica, o Vostok. Ele é estudado há anos por cientistas para
ser uma referência – eles querem entender se é possível a proliferação de vida
no local.
Além disso, ainda em 2015, a Nasa apontou que o
"Planeta Vermelho", por sua distância do Sol, seria muito gelado para
conseguir manter água na forma líquida na superfície, mas os sais no solo
poderiam diminuir seu ponto de congelamento, permitindo a formação de camadas
de água bem salgada – como uma salmoura.
O que é importante entender é que esses sais na água de
Marte, os percloratos, podem não ser os melhores para proliferação de
organismos vivos e são tóxicos. Pesquisadores mostram, no entanto, que há
alguns tipos de vida que poderiam viver nessa salmoura do planeta vermelho.
"Há muito tempo já dizia que a superfície de Marte seria
inabitável por causa desse sal. Mas desde 2017 estão saindo trabalhos mostrando
micro-organismos na Terra que são resistentes. Quem sabe eles também estão em
Marte?", completou.
Material orgânico
Neste ano, a Nasa publicou também na revista
"Science" que descobriu material orgânico preservado entre rochas
(argilitos) com cerca de três bilhões de anos em cratera do planeta Marte. Os
cientistas acreditam que pode ser uma evidência de vida no passado.
Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/ciencia-e-saude
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